Monday, July 31, 2006

Sunday, July 30, 2006

"S.O.S." (JVC in Jornal de Tondela)



S. O. S.
Senhor Director stop. Suplico confirme suas instruções e coordenadas stop Estou há 3 dias mergulhado no local indicado stop Sem indícios de marcianos com armas atómicas stop Partes meu corpo em perigo stop Alfa pendular em risco de extinção stop Única bomba à vista é uma terráquea stop Pedi Maria interromper lides caseiras e envio de provas stop Repórter indeciso tipo de bomba stop Difícil julgar stop Proa e popa sugerem bomba modelo BB(1) ou RW(2) stop Favor confirmar com base dados marinha Tondela stop Última hora stop Bomba mexeu-se stop Maria vai para dentro stop Esta frase não é para si senhor director stop Movimento das curvas sugerem bomba nova stop Vou segui-la stop Estou a ouvi-lo mal stop Muitas interferências stop Sinal muito fraco bomba muito mais forte stop Contactarei em … bip bip bip bip.

(1)Tabela encrip-tação XPTO = Brigite Bardot
(2) Tabela de en-criptação XPTO = Raquel Welch

Monday, July 03, 2006

"Sustentos" por JVC in Jornal de Tondela (Versão blog)




Não sei se é coisa que aconteça com todos mas eu fico particularmente satisfeito quando revejo antigos colegas dos meus tempos de estudante. A maior parte das vezes já não nos conhecemos uns aos e é só através de terceiras pessoas que conseguimos recordar os fugazes laços que nos ligaram no passado. Do meu tempo de liceu, passado no Porto, contam-se pelos dedos aqueles de quem me recordo; há mais de trinta anos que vim para a capital e, desde então, se vi quatro ou cinco, foi muito.

Quis o acaso que, na passada semana, eu tivesse esbarrado com alguns desses meus antigos companheiros. Em viagem profissional ao norte, tive que ir jantar com uns clientes, a paparoca e a conversa prolongaram-se mais do que o habitual, a excelência da noite convidava a ficar na esplanada daquele restaurante na Foz, o barulho das ondas… enfim, estão a ver o panorama.

Os meus clientes já me tinham deixado, quando dei de caras com um sorriso redondo, bronzeado e bem barbeado, patilhas até aos queixais e o cabelo, preto e penteado para trás, coberto de/com (???) brilhantina. És o Meireles, pá! Estás na mesma, dá cá um abraço! Há quantos anos?, trinta e tal?, meu não mudaste nada. E era verdade, o Meireles, tirando as patilhas e a brilhantina, estava igualzinho!
O que é que estás aqui a fazer, pergunta-me ele, estou em trabalho digo eu, por acaso até já me estava a ir embora, ai isso é que tu não vais, diz ele, isso é que era bom pá, tens que ir beber um copo à minha tasca, ali à frente e aponta com um dedo para o outro lado da marginal; o Rui Lingruinhas foi mesmo agora para lá, lembras-te dele, não lembras?, coço a cabeça … hum, assim de repente não, pá, a sério que não, não te lembras?, espanta-se ele, é aquele gajo, pá, aquele que se amandou do eléctrico em andamento abaixo para fugir ao pica e que ficou com a tromba esculpida no poste dos telefones! Ah, o coreano?, digo eu, sim, sim, esse mesmo, pá, ele ainda agora me ligou a dizer que estava lá e o gajo de certeza que também vai gostar de te ver. Fomos!

Na tasca do Meireles, vendia-se mais whisky do que vinho e além do coreano e de alguns outros clientes estavam espalhadas pela sala para aí uma dúzia de miúdas. Dei um abraço ao coreano, este sim estava diferente, uma barriguinha de fazer inveja a certas grávidas, umas entradas no cabelo a fazer-me inveja a mim, a conversa da praxe e de chofre diz-me: estou reformado.
Estás reformado? Reformado como?, perguntei-lhe eu. Explicou-me que tinha pedido a reforma antecipada da função que exercia num organismo público, tinham-lha concedido e portanto ele está reformado, a receber a reforma mas a trabalhar no mesmo sitio e a receber um salário (não digo que tipo de organismo nem qual porque ele me obrigou a jurar segredo, pela alminha da falecida Zélia). Eu quis saber mais, mas a bexiga dele já não aguentava, ele levantou-se e deixou-me. Foi substituído por uma cabeleira loira que se aproximou e me espetou duas beijocas, sou a Gina; eh pá, Gina, desculpa, mas assim de repente não te reconheci, balbuciei, antes de lhe perguntar: o que é estás aqui a fazer? Trabalho para o Meireles, ele é o meu chulo!
A chegada do coreano, cortou o silêncio instalado e a Gina, já sorridente, pergunta-me: lembras-te do Rui?
Eu olho, embevecido, para o coreano, enlaço-o pela cintura, puxo-o bem para mim, viro-me para a Gina e respondo com orgulho:
Então não lembro! Sou uma das putas que o sustenta!