Thursday, October 27, 2005

Belos exemplares...

O que já temos....


e
o que nos espera se não
nos pomos a "pau"....




"Bloqueios" por JVC (Jornal de Tondela)


Originally uploaded by Oishi Kuranosuke.



O meu clube, o FCP, levou mais uma trepa monumental no fim de semana, tão grande, que no final do jogo o estádio do dragão mais parecia o santuário de Fátima, cheio de adeptos com lenços brancos, simbolizando talvez a necessidade de um milagre para conseguir umas vitórias ou apenas um instrumento de precaução para proteger a boca e evitar apanhar o vírus da gripe das aves, das águias neste caso. Desde que se recomeçou a falar desta possível gripe eu sabia que o meu clube era um dos mais expostos à epidemia porque o Pinto, que é o presidente, há muito que dava sinais de debilidade física. No mínimo! Naturalmente que o vírus das aves tinha que o apanhar. Bastava um, mas o portador, Maria Alice antes do jogo e Nuno Golos depois, achou por bem duplicar a coisa para o efeito ser mais doloroso. Attchimm ... Santinho! Obrigado.

Esta cena dos lencinhos repetiu-se noutro estádio mas aqui em Lisboa e embora me digam que esta é uma das formas dos adeptos mostrarem o seu desagrado aos treinadores e desejar-lhes uma boa viagem para o diabo que os carregue (não fora a malvada da dita gripe das aves, mandá-los-iam para as patas que os puseram), acho que este gesto colectivo de muitos dos meus compatriotas merece uma análise bem mais profunda e, quem melhor do que eu, especialista nas matérias, quaisquer que elas sejam, para o fazer?

Eu bem que gostava de não vos desapontar, mas a verdade é que são horas de mandar o trabalhinho para o meu patrão e apesar de já estar na vigésima segunda linha do texto continuo sem saber como fazer essa análise. Tenho dois neurónios, mas um está de greve por solidariedade com a justa luta do bicho da fruta e o outro está bloqueado, não sei o que lhe sucedeu hoje, coitado, até parece os nossos camionistas na fronteira com a Espanha. Só que os camionistas, eles sim são coitados, querem fazer o trabalho deles mas há pessoas, interesses e piquetes que não só os não deixam circular como até os ameaçam fisicamente, passando das palavras aos actos. Ao meu neurónio, a ele, não sei quem foi que o bloqueou! Vou precisar da ajuda de especialistas.

Por falar em especialistas na matéria, telefonei a um amigo meu do BE (Bloco de Esquerda) a perguntar-lhe se o chefe deles, o tele-evangelista Fr. Anacleto Louçã, ia alugar um autocarro, como ele e outros amigos dele fizeram há uns anos, para ir à fronteira de Vilar Formoso defender o direito ao trabalho dos nossos camionistas e refilar, marchar, protestar contra o bloqueio dos espanhóis, com as câmaras das nossas televisões atrás para registar prováveis tumultos e, a cereja em cima do bolo, agressões a deputados dum país soberano.

Que não senhor, que não está prevista nenhuma acção de protesto deste género, mas então tu não sabes, perguntou-me ele, quem é que está a patrulhar a fronteira do lado de lá? A Polícia, disse eu. Qual Polícia, qual carapuça, responde ele, são mas é os gajos dos piquetes pá, pois, e com esses a gente não se mete, estás a ver, é que com a bófia, a gente já sabe que se os gajos nos batem meio a medo, a nós não dói nada e depois eles é que se lixam, mas com os piquetes de greve, és maluco, vínhamos de lá feitos num oito e com um valente enxerto de porrada. Ouve lá João, continuou ele, mas tu alguma vez nos viste a protestar contra, quando podemos levar no coco à séria?

Friday, October 21, 2005

Ainda bem que não houve surpresas...

(Cartoon de Bandeira - Diário de Notícias 21-10-05)

E "olhó" nível! Que diferença de outras personagens! Boa sorte para ele e para nós!

Viva Mezzo!!!



Grande programa musical no serão da passada quarta-feira com o documentário sobre a gravação do CD Autour du Blues-Vol.2 só foi pena levar-nos a perder o princípio da habitual Quadratura do Círculo.

Sunday, October 16, 2005

"Que Rio Grande, Santa Bárbara!" por JVC (Jornal de Tondela)




Desde o fim da tarde de ontem que tem chovido com alguma abundância aqui onde moro. Depois de meses sem uma pinga de água, a ribeira que faz fronteira com a minha casa tem finalmente o caudal mínimo para fazer jus ao nome. Os manda chuvas prevêem, para os próximos dias, a continuação de fortes quedas de água acompanhadas de ventos fortes e, como hábito, há zonas deste concelho isaltinado, que vão sofrer as primeiras inundações.

Bem mais grave parece ser a situação no Porto onde, segundo os noticiários, há um enorme Rio, Rui de seu nome, a correr em paralelo com o Douro e a prometer continuar a causar prejuízos avultados nos alicerces de fortificações seculares, supostamente edificadas em terrenos seguros e inexpugnáveis, mas que afinal mostram já belíssimos sinais de erosão.

O técnico de serviço à previsão meteorológica nas eleições autárquicas na SIC (e no Expresso), de seu nome Oliveira e Costa, assegurava na sexta feira passada, sem margem para qualquer dúvida, que este Rio tinha perdido caudal e que, visse eu bem, corria até o risco de ser despromovido a um mero ribeiro, por obra ou milagre do santo de Assis. É o fim, pensei! O homem para estar a falar assim, com tanta convicção, só pode estar certo! Uma seca destas no país inteiro e mais um Rio que se vai. Corri a acender uma velinha mas devo ter-me enganado na reza porque quem me apareceu foi um tal de Pinto da Costa, ainda por cima a amaldiçoar as suas águas. Sete vezes cuspi e dezasseis me benzi, três dentes de alho e um dedo cortei e à espera do juízo final sentado fiquei.

E quando ele chegou, o juízo (a)final, acalmaram-se os ventos e a água deste Rio foi aumentando até se tornar absoluta. E eu descansei.

Consciente que teria de agradecer, logo que me fosse possível, aos deuses, tão grande graça, primeiro fui celebrar a casa do meu amigo Quim, aproveitando comemoração de mais um aniversário dele. No recato do meu lar, muitos cigarros e copos já passados, levo com um raio num sitio que nem vos digo e recebo a seguinte mensagem no telemóvel: “Acaso está a trovejar para tu te lembrares de mim??? Estás a reinar comigo ou estás-te a meter com o meu marido? Olha, sabes que mais, tu para mim vens de carrilho ...!”.

Saturday, October 08, 2005

Thursday, October 06, 2005

"O Fado" por JVC (Jornal de Tondela)



Hoje é domingo, dia de descanso e por isso há que fazer um esforço suplementar para nada fazer. Dá algum trabalho mas vale a pena chegar à noitinha, vestir o pijama em frente ao espelho e antevendo o que será o dia seguinte, essa segunda feira maldita, poder pensar com orgulho e peito feito, missão cumprida! Hoje, mais uma vez, consegui não fazer nada. A única nódoa a manchar este monumental dia de absoluto ripanço é esta crónica mas que apesar de tudo até acaba por realçar o prazer da preguiça.

E bem precisava deste descanso porque ontem fui aos fados e, claro, deitei-me tarde, bem fumado e bastante mal bebido. Mal bebido porque até parece que estava nalgum país sem videiras, tal o preço dos vinhos, tão caros que nem lata tenho para dar um exemplo. Mas já que insistem, fiquem a saber que pelo mesmo preço de um tintol de média qualidade, quase que pagam o almoço de quatro pessoas num restaurante aí da zona de Tondela onde já fui algumas vezes com os avós paternos dos meus filhos.

Felizmente só nos dá para ir a banhos na nossa cultura quando o rei faz anos, caso contrário já tinha tirado um curso acelerado de lavar pratos com letra protestada do meu banco e música do maestro da massa falida. Talvez por isso se explique que bastante mais de metade da clientela era estrangeira.

As vozes eram bastante boas e os músicos dedilhavam bem; um dos cantores, um juiz desembargador reformado, especialista em fados de Coimbra, lá nos pôs todos a cantar, afinal as terras do interior têm mais encantos quando a malta se pira e vai por aí fora, correndo mundo cá dentro. Deu-me a mim, e se calhar o todos os outros, uma nostalgia dos anos em que por lá estudei, mesmo não tendo frequentado nenhum estabelecimento de ensino por aquelas bandas.

Gosto mais do género do fado que o juiz canta, mas o repertório escolhido pelos que cantam o fado alfacinha também não esteve nada mal. As letras partem-nos o coração e versam os temas do costume, o meu amor, que eu amo tanto e que me passou ao lado e fez de conta que eu tinha escarlatina evitando qualquer contacto físico e assim atirando-me para uma cama de um hospital publico em dia de greve dos enfermeiros e doutores e outras coisas do género.


Mas a que mais me tocou mais foi aquela que nos conta a história duma desgraçadinha que andava, sossegadinha, no gamanço para dar de comer aos seus, um boneco nas mãos da justiça ou a justiça nas mãos da boneca, uns a querer mandá-la para o xelindró e os outros a quererem recompensá-la com umas férias prolongadas num pais tropical, abençoado e por Deus e bonito por natureza, por fim obrigada a fugir, uma mão à frente e a outra também, saudades do bacalhau com todos, finalmente o regresso auto imposto, arriscando tudo, conforto, dinheiro, jóias peles, o vergar a Lei, o perdão, os risos, as palmas, as luzes da ribalta, o sucesso, as câmaras!
O lancinante trinar das guitarras realçava o sofrimento vivido pela fadista de negro vestida, feito de esgares faciais, olhos fechados e virados para o céu, puxões bruscos e desesperados das mãos no xaile, qual corpo de um tacho imaginário, que com dolorosa saudade se precisa de segurar, acariciar e embalar.
Fosse o preço do tintol mais em conta e tinha afogado as mágoas. De vez!