Thursday, May 25, 2006

"Energias" (JVC in Jornal de Tondela)







Há certas lâmpadas que quando se ligam funcionam como as sirenes dos bombeiros, obrigando-nos a tomar determinadas decisões, com maior ou menor grau de urgência e com diferentes impactos no nosso bem-estar. Uma das mais irritantes é aquela luz redonda e amarela com que os construtores de automóveis nos recordam que os cavalos dos nossos veículos estão com sede e que se quisermos continuar a viagem há que lhes enfiar uns quantos litros de combustível pelo depósito abaixo.

Se eu, quando tenho sede, arrefinfo com umas quantas bejecas pela goela, é justo que os cavalos do meu popó também bebam qualquer coisa; a chatice é que ao comprar-lhes a bebida – combustível em estado liquido – estou a dar de mamar a uma cambada de mamíferos – especialmente a um estado sólido – o que invariavelmente me deixa num estado gasoso. Ainda a semana passada, por razões médicas, mandei analisar o liquido do depósito do meu carro e, sem surpresa, a mistura tinha mais impostos que petróleo.

Durante cerca de uma década e meia o petróleo e a uva mijona vendiam-se quase ao mesmo preço, constando até que, nalguns países, ela, a uva, era mais cara que ele, o petróleo. Como resultado, os produtores de ouro preto não tinham muita motivação para investir no aumento da sua capacidade de oferta e os consumidores não tinham razoes para pressionarem os construtores a investir noutras energias alternativas. De há uns anos para cá a coisa mudou e passámos dos nove para os setenta por barril. Como os produtores já têm o que querem, compete-nos a nós, consumidores, fazermos a nossa parte e pressionarmos, quem de direito, de modo a que sejamos depenados (isso é inevitável) sim, mas bastante mais devagar.

Pelo que tenho lido, já se produzem, nalguns países, veículos movidos a electricidade e também a hidrogénio e que dispensam totalmente produtos derivados do petróleo; só que a tecnologia ainda é cara e os preços de venda desses carros são muito caros quando comparados com o que custa hoje um carro a gasolina ou a gasóleo. Parece que só daqui a mais uns cinco ou dez anos é que será possível produzir, em série e baratos, não sendo certo que tipo de combustível virá a ser o próximo” senhor global”.

Os carros movidos a álcool, solução que o Brasil adoptou há muitos anos e que reforçou nos últimos quatro, estão a também a ganhar muitos adeptos no maior mercado consumidor do mundo, o mercado norte-americano; a General Motors (GM), um dos maiores construtores mundiais, que por sinal está quase falido, já vende carros movidos a álcool/etanol (numa mistura de 85 por cento de etanol e 15 por cento de gasolina) que custam o mesmo que os carros a gasolina. Algumas áreas rurais dos Estados Unidos, que padeciam dos mesmos males que as nossas, estão a enriquecer graças à construção de centenas de pequenas fábricas (destilarias) de etanol, produzido a partir do milho, cuja produção e preço duplicaram. Convém dizer, que muitas destas fábricas pertencem a associações de agricultores.

Para ver se deixo de ser burro com o que gasto para alimentar os cavalos, ando à procura da melhor maneira de importar um carro a GPL. É que o preço por litro ainda é de 0,593 cêntimos.