Friday, June 30, 2006

Monday, June 19, 2006

"Estado de Alma" por JVC (Jornal de Tondela)


É quase meio-dia, hoje é Domingo dia 11 de Junho, acabei de tomar o pequeno-almoço e, desde que me levantei, que ouço uma música desafinada a tocar, algures, ou dentro ou à volta da minha cabeça. A principio pensei que era o fígado, chateado, a fazer queixinhas às autoridades que mandam no meu corpo, protestando contra a quantidade de álcool e tabaco, consumidos na véspera, facto que, aparentemente o deixa com os bofes de fora; só depois, estava eu, cara de abrunho ressacado, a passear de canal em canal, é que percebi a causa.

Na RTP-N, um senhor que eu não conheço, comentava, empolgado, o primeiro discurso do dia de Portugal do novo Presidente da Republica, excelente, essa de não nos resignarmos, consensual, apela ao que nós temos de melhor, nós, os portugueses, somos capazes, já o provámos no passado podemos fazê-lo no futuro, os passarinhos a voar e a chilrear, as meninas a dançar e a cantar, darmos as mãos uns aos outros... Na SIC Noticias, um senhor deputado do partido socialista, de nome Ramalho, a propósito do mesmo tema, dizia, com ar sério e parafraseando um escritor qualquer, que nós somos generosos, bons, honestos, trabalhadores, os passarinhos a voar e a chilrear, as meninas a dançar e a cantar, darmos as mãos uns aos outros... que o nosso problema não é de números, é de alma!

Já tinha o frasco com os sais de frutos na mão, para acudir a uma convulsão gástrica, quando percebi que a música não era consequência dos exageros da véspera mas do som que vinha daquele ecrã; poisei o frasco e, ainda agoniado, desliguei o aparelho.

Fui buscar as duas cartas que recebi das finanças nessa semana e li-as, com muito mais atenção! Por me ter atrasado vinte e quatro horas – um dia – a pagar o meu irs de 2004, recebi um castigo equivalente a 1 (um) por cento do valor total; ou seja, em termos anuais, corresponde a uma taxa de juro de 365%. Nem os melhores clientes da dona branca, ao que me lembro, conseguiam metade desta taxa.

Felizmente os passarinhos estão a voar e a chilrear e as meninas a dançar e a cantar, o que significa que o dinheiro que eu empresto ao fisco, todos os anos, em adiantado e por conta, nos meses de Julho, Setembro e Dezembro, me vai render uma pipa de massa. É só fazer as contas: mesmo que “eles” remunerem o meu empréstimo a um terço da taxa de juro que me cobram, o meu dinheirinho vai render perto de 120% ao ano! Olaré!

Mas como, entretanto, os passarinhos aterraram mudos e as meninas se calaram, isto é, caí na realidade, já sei que vou ver os juros do meu rico dinheirinho pela ponta de um canudo. Esta prepotência deve ter um nome qualquer quando praticada por outrem que não elas, as autoridades. Quanto aos juros que me querem cobrar, vou seguir o conselho do senhor presidente e, podendo, não me vou resignar! O meu problema, causado pelas almas do estado, tem mesmo a ver com os números.

"Ministra que estás à janela com o teu cabelo..." (LOL)


Sunday, June 04, 2006

Ansiedades (por JVC in Jornal de Tondela)





Uma onde de calor vinda lá das Africas no final da semana passada, fez-me sentir saudades dos dias frios, aqueles com temperaturas mínimas de dezasseis e máximas de vinte. Para cúmulo, o ar condicionado do meu carro resolveu pregar-me uma partida e em plena viagem para uma visita às terras de Besteiros, com uma temperatura exterior de trinta e muitos graus, sua excelência resolveu dar uma de deputado, assinou o ponto e baldou-se. Fiquei eu e mais a minha trupe no veículo, muito quentinhos, a destilarmos.

Em situações dessas apetece ir tirando a roupa, mais ou menos como fazem as modelos femininas que posam para a Maxmen, uma revista para homens e que tem como director um cavalheiro que dá pelo nome de Domingos Amaral, apelido igual ao do pai, o meu especial e querido amigo que está à frente da pasta dos negócios estrangeiros. Farto de olhar para os artigos expostos, o jovem Amaral, começou a escrever num órgão de comunicação especializado em temas económicos.

E das duas uma: ou está a querer gozar connosco ou está a querer gozar connosco! Pode ser que haja uma terceira hipótese, a da provocação, via mais eficaz para uma notoriedade mais rápida, mas fico a aguardar mais artigos para saber qual é a dele.

Num artigo datado de Abril, o jovem pedia que alguém lhe explicasse qual o problema de termos um défice de 5% em vez de 3%. Está visto que o paizinho não lhe deve ter explicado que quando uma família, em cada ano que passa, gasta em bens necessários e esbanja em muitos outros que são um luxo, sempre muito mais do que aquilo que ganha, não só acaba por dar com os burrinhos na água como há-de acabar por pôr os ditos burrinhos lá, no fundo, bem debaixo da linha da água (os burrinhos somos nós, contribuintes). Como alguém comentou, para ele tanto faz quando um carro vai a descer e com problemas de travões, ir a 50 como a 120, porque quando chegar à curva espeta-se na mesma!

Mais recentemente, a propósito das posições dos liberais sobre o peso (excessivo) do estado na economia e da (rígida) lei laboral, informou-nos de que as classes médias e baixas nunca irão votar em partidos que defendem estas politicas porque, destinando-se elas a reduzir o estado social de bem-estar, o emprego garantido para a vida e outras mordomias, causam-lhes (às ditas classes) mais ansiedade. Suponho que este maior nível de ansiedade seja por comparação à tranquilidade que o sistema actual lhes provoca. Ainda não tinha topado que as classes médias e baixas andavam nervosas e ansiosas com a perspectiva de perderem algo que não têm, mas como sou míope, o problema é meu com toda a certeza.

Presumo que o importante para as outras classes não mencionadas pelo jovem Amaral, é não abanar a malta, não stressar o indígena, deixar as tetas tal como elas estão, cada um já sabe onde e o que é que mama, vejam lá as ideias destes marmelos liberais! Ainda nos arranjam problemas! Querem tetas? Comprem a Maxmen e vão com ela ao futebol a servir de chapéu.