Thursday, February 17, 2005

NADA DISTO ACONTECEU...

Nada disto aconteceu
por Nuno Rogeiro - 11/02/05


Dado que o passado foi chamado à campanha eleitoral, devemos responder, puxando da memória. (...)


Quanto à experiência de poder do PS, desde a queda do cavaquismo, em 1995-96, até 2002, existe uma espécie de amnésia.
A verdade, se calhar, é que nada do que a seguir se enumera alguma vez existiu!!!

A saber:

- Acumulação de défice excessivo nas contas públicas, originando o despertar da repressão de Bruxelas, para além de incentivo irresponsável ao gasto individual e desprezo pelos apelos à moderação e à poupança.
- Saída de Sousa Franco do Executivo, depois das linhas mestras das suas políticas de saneamento da conta pública se terem tornado inviáveis, ou politicamente indesejáveis.
- Análise negra do estado da economia portuguesa, por parte de Cavaco Silva, numa famosa entrevista de Julho de 2000.
- Alegações de políticos, empresários e governantes, segundo os quais a banca portuguesa estava a ser vendida ao desbarato aos estrangeiros.
- Anunciados planos de combate à evasão fiscal, anunciados falhanços dosmesmos planos, e anunciada continuação da dita.
- Ligações perversas da política ao futebol, com o cortejo conhecido de enxovalhos, confusões e negócios pouco claros.
- Insistência na política de co-incineração como única via possível detratamento de resíduos perigosos, apesar da divisão dos especialistas eda oposição do "homem da rua", certamente manipulado por caciques eenvenenado pela Comunicação Social privada.
- Episódio dito do "queijo Limiano", ou a cedência da alma em troco de votos no Parlamento.
- Quedas sucessivas de ministros da Defesa, conflitos entre estes titulares e o primeiro-ministro, queixas de falta de meios, espectáculo de parca mobilização de recursos para tarefas externas, divulgação pública de listas de agentes "secretos", novelo de escândalos em torno da aquisição de armamento e fardamento, cenas de estalada entre chefes políticos e chefes da "comunidade de informações".
- Tragédia da ponte de Entre-os-Rios, originando a demissão de JorgeCoelho, e suspeita geral sobre o estado das obras públicas.
- Inundação do túnel do metro no Terreiro do Paço, e alegação de que omesmo foi ali feito com grande risco, sem as precauções devidas e nãolevando até ao fim estudos exaustivos sobre as características dosubsolo.- Escândalos na JAE, corrupio de acusações e alegações, e declaraçõescríticas do engenheiro Cravinho, dizendo que Guterres havia sidoderrotado pelos "grandes interesses" e pelos lobbies (Janeiro de 2000).

- Colapso na gestão das grandes cidades, que levou a uma maré de rejeição, em 2001, e à passagem da era PS para a era PSD, em Lisboa, Coimbra, Porto, Sintra, Cascais, etc..
- Fantasmas desastrosos, como o espectáculo de "Porto, Capital da Cultura", com obras a juncar a vida do cidadão comum, turistas perdidos e desiludidos, projectos inacabados, escândalos financeiros e "mistérios" como os da Casa da Música.
- Escândalo em torno da Fundação para a Segurança, levando à saída "apocalíptica" de Fernando Gomes do barco do guterrismo, e a sugestõesde conspirações no seio do poder, com o primeiro-ministro a saber tudo e a calar ainda mais.
- Filosofia de miséria na RTP, levando o serviço público à pré-morte,depois de anos de insanidade financeira, extravagâncias de programação,guerras civis de chefias e tentativas infantis de controlo político, dos telejornais às entrelinhas...
- Desinteresse pela política por parte dos cidadãos mais de um terçodecidiu não votar nas legislativas de Outubro de 1999, mesmo depois deGuterres ter dito que o seu pior inimigo era a abstenção.
- Estado geral de guerra civil dentro do Governo e da maioriaquase-absoluta, levando António Guterres a bater com a porta, clamandoque o país se encontrava num pântano.


Enfim, foi tudo um sonho...
Pode-se votar no regresso de um sonho?

"Penso, logo existo" - René Descartes (1596-1650) filósofo e matemático francês
Nuno Rogeiro escreve no JN, semanalmente, às sextas-feiras