Monday, July 11, 2005

"Deep Impact" by JVC (in Jornal de Tondela)



O titulo corresponde ao nome dado a (mais) uma nave da Nasa cujo objectivo é colidir, com o cometa Temple1(*) e, através dos resultados dessa colisão, saber mais sobre a estrutura dos cometas e sobre a criação e a evolução do nosso sistema solar.

A nave, lançada em Janeiro deste ano, ao chegar ao seu destino, vai largar duas outras naves robotizadas, uma chamada Flyby e a outra Impactor, que depois de complexas manobras se vão posicionar para as suas missões. A segunda vai tentar transmitir imagens da sua trajectória suicida em direcção ao núcleo do cometa até ao impacto e a primeira transmitirá as imagens após o impacto.

A colisão não terá efeitos na sua trajectória e uma das grandes expectativas imediatas, quer entre os cientista quer entre o publico em geral, é a de tentar adivinhar qual o tamanho da cratera que vai resultar do choque. Em confronto estão os que acreditam que o cometa é um enorme conjunto de resíduos e que por isso a cratera será insignificante e aqueles que acham que o cometa é extremamente sólido o que significará uma cratera substancial. Eu incluo-me entre os partidários da primeira teoria.

Ao acompanhar os actuais acontecimentos, espaciais e terrenos, internacionais e nacionais, por comparação, aceito também apostas sobre o seguinte: qual o tamanho da cratera que vai resultar da luta contra a teia dos obscenos privilégios que, ao longo das últimas três décadas, uma parte bastante significativa dos nossos concidadãos se entreteve a tecer á nossa volta e que agora ameaça o nosso bem estar e o dos nossos descendentes?

O Impactor representa os que, como eu, entendem que a liberdade de escolha é o motor do desenvolvimento e do progresso; os nossos privilegiados concidadãos serão o cometa e o governo é representado pela nave que vai ficar a tirar fotografias, de longe, aos estilhaços do confronto.

O lançamento da nossa nave ocorreu há poucas semanas, graças ao impulso dado ao projecto por um, até agora corajoso, novo comandante. Dizem alguns que o impulso foi fraquito mas o certo é que deu para levantar poeira e isso, a meu ver, já é alguma coisa. O impacto está previsto para ocorrer algures no próximo outono, ou inverno, que isto de datas rigorosas é coisa complicada.

A crer nos primeiros dados enviados pela nave, parece mais provável que a cratera resultante desta colisão terá dimensões reduzidas; de facto, os testes feitos ás últimas imagens obtidas, tiradas mais de perto, indicam que o núcleo central é composto por uma massa fossilizada, muito compacta e ruidosa.
Não devem estas primeiras impressões desmoralizar as hostes do Impactor que apostam numa grande cratera. Até no espaço, água mole em cometa duro, tanto dá até que fura.

(*) A colisão já terá ocorrido à data de 4 de Julho.