Tuesday, February 14, 2006

"Obviamente" por JVC (Jornal de Tondela)



Aqui à atrasado (*) – expressão que nós, os adeptos do grande fcp, usamos quando nos referimos a um acontecimento que não ocorreu hoje – já não me recordo muito bem quando foi nem onde é que foi, estava nu e sentado a olhar para o meu umbigo, quando reparei que, mais abaixo, do meu corpo sobressaía uma coisa, uma espécie de torneirinha em ponto pequeno; intrigado, estiquei-a, torci-a, fiz-lhe trinta por uma linha, até que finalmente se fez luz no meu pequeno cérebro e eu cheguei, tarde mas cheguei, à conclusão. Do quê, perguntarão? Do óbvio, responderei!

Foi em resultado de uma meditação parecida, segundo fontes próximas que contactei, que o nosso ministro dos negócios estrangeiros redigiu o seu comunicado da passada semana, texto que rapidamente se transformou no bombo da festa para milhares de almas criticas, sendo que a esmagadora maioria não prenuncia um futuro auspicioso ao seu autor.

Segundo o professor, no seu comunicado, obviamente não valia a pena condenar a destruição, levada a cabo por extremistas radicais islâmicos, das embaixadas da Dinamarca e da Noruega (a do Chile não conta porque esses, além de não serem europeus recordam-nos Pinochet, um dos poucos ditadores que não morreu calçado) porque, como toda a gente está, ou devia estar, fartérrima de saber, ele é contra toda a violência e, obviamente, não é preciso andar sempre a lembrá-lo. O que vale a pena relembrar, isso sim, vezes sem conta e ad aeternum, como de resto ele sublinhou no último sábado, são as nossas agressões. Ou sou sonâmbulo e agrido a dormir ou então aquela boca não era para mim. Obviamente!

Como os amigos são para as ocasiões, para nos ampararem em caso de queda ou de gaffe, um senhor deputado, de nome Canas (ó senhor ministro, não se fie nesta cana que não me parece que ela aguente muito peso...) veio encostar-se ao professor e toca a dizer, preto no branco (será que posso escrever isto???), que os cartonistas dinamarqueses e os extremistas radicais islâmicos estavam bem uns para os outros. Obviamente!

Na linha dos ideais atrás expressos e tendo em vista a sã convivência entre todos os povos, o canal de televisão por satélite inglês SKY, a propósito da condenação em tribunal do imã radical Abu Hamza (também conhecido por “capitão gancho” por usar dois ganchos como próteses para as mãos que perdeu na guerra contra os russos), entrevistou um outro imã, amigo do condenado e de nome Hamid Ali, que por sinal até vive em Inglaterra e que não teve qualquer problema em explicar aos espectadores que não senhor, ele e os seus não reconhecem a autoridade das leis inglesas e que sim senhor, eles, os muçulmanos, têm muito mais direito àquela terra do que eles ingleses. Já não me lembro dos argumentos que ele deu em defesa deste suposto direito de propriedade porque entretanto saltou-me a tampa e deixei de conseguir ver e ouvir. Obviamente!
(*) Uso a mesma expressão, no plural e escrita de outra maneira, sempre que passo em frente aos estádios da segunda circular na capital (senhor director: por falta de tempo não pude contactar o senhor ministro da licenciosidade, pelo que agradecia me informasse, com urgência, se corro perigo de vida ao acabar de melindrar tantos milhões de portugueses)