Tuesday, February 07, 2006

"Pretextos" por JVC (Jornal de Tondela)




Tendo como desculpa, de mau pagador, a publicação, há meses, num jornaleco dinamarquês, de uma dúzia de desenhos em que se satirizava a violência islâmica, actualmente a face mais visível do Islão, a arruaça extremista muçulmana tomou conta dos noticiários internacionais, através de vários eventos culturais, desde simples manifestações em várias cidades da Europa (nomeadamente em Bruxelas e em Londres) a espectáculos mais sofisticados, coloridos e barulhentos, como queima de bandeiras e assaltos a embaixadas. Um dos espectáculos que deu mais alarido teve como palco embaixadas de dois países europeus e ocorreu na Síria, pais que vive numa ditadura monárquica e policial há décadas; este facto, o tipo de regime vigente, demonstra, sem qualquer margem para dúvidas, que este espectáculo, não autorizado no direito internacional, foi levado à cena com a conivência das autoridades locais. Na manifestação que ocorreu em Londres e que foi transmitida pela televisão para todo o mundo, centenas de artistas, muitos dos quais devidamente encapuzados, empunhavam cartazes em que se pedia ao público a sua participação, cortando umas cabeças aqui, massacrando uns cartonistas acolá ou linchando uns quantos blasfemos um pouco por todo o lado.

Alguns críticos ocidentais, os mais distraídos e menos inteligentes, julgaram detectar nesse conjunto de espectáculos uma intromissão inadmissível dos seus autores na nossa cultura mas a nossa inteligência, europeia, bem instalada nos salões governamentais, da imprensa e da esquerda caviar e radical, com o seu silencio, repôs as coisas no seu sitio, isto é, no pasa nada! E se algo se passou ou está a passar, é a crescente disparidade entre o que sente a maioria das pessoas europeias e os seus lideres, fruto da ânsia que os inteligentes têm em dar voz a toda e qualquer corrente de opinião, por mais minorca e estapafúrdia, que enxovalhe os símbolos da (nossa) cultura ocidental ao mesmo tempo que desculpa e justifica os crimes de meia dúzia de afilhados, ainda que bastardos.

Como li algures, neste principio do século vinte e um, subjugado pela mediatização da nossa vida ou da nossa vida subjugada pela mediatização, as elites, infestadas por complexados, dos pós colonialistas aos dos fracassados do marxismo, decidiram dividir o mundo em bons e maus; os bons são todas as raças que não são brancas, todas as culturas desde que não sejam a nossa (a ocidental), os não ricos e os que não têm qualquer poder; os maus são todos os outros, os ricos, os poderosos e a cultura ocidental.

Assim, tudo o que um mau faz, é sempre mau; e se o que o mau faz não é mau e por isso é bom, então é porque o faz com segundas intenções, para vigarizar o bom e o tempo se encarregará de demonstrar esta evidência, porque o mau é mesmo assim, é mau! Pelo contrário, tudo o que o bom faz, é sempre bom; a não ser, claro, que o que o bom faz seja mau e, nesse caso, a maldade resulta – só pode – de uma reacção compreensível face aos abusos que sofreu às mãos de gerações de maus (de trisavôs a netos) ou a trivialidades muito especificas da cultura do bom, como por exemplo, não dar quaisquer direitos às mulheres.

Nesta linha de pensamento, o bloquista Daniel Oliveira, disse na SIC que o enorme abaixo-assinado de protesto feito pelos católicos aquando da publicação no semanário Expresso de um desenho do Papa com um preservativo no nariz é igualzinho ao queimar das bandeiras da Dinamarca. Claro, só pode!