Tuesday, June 14, 2005

"Concorrência? Não obrigado!" por JVC (in Jornal de Tondela)

Concorrência? Não obrigado!

A semana que passou foi barulhenta! Muito ruído, muita discussão, talvez a prova de que com o bom tempo, os calores de muita e boa gente entram em ebulição e zás, salta-lhes a tampa! Ele foi na França, na Holanda, na Itália, e por aí fora e por aqui dentro também. Agora que as comadres estão zangadas vai ser lindo. Ainda bem que a minha santa ignorância nunca me motivou a tentar nenhum cargo publico porque, agora, não queria estar na pele de quem vai (tentar) consertar o que parece estar a desmoronar.

A meu ver e na minha santa ignorância, muito deste barulho (cá e lá) deve-se a uma palavra: concorrência! E à reacção (alérgica) de muitos dos nossos maiores empresários privados, gente com sucesso e muita nota, quando são obrigados a conviver com ela.

Antes do 25 de Abril de 74, alguns grandes empresários, com enormes empresas e fortunas, viviam devidamente protegidos pelo regime. Esta situação de monopólio favorecia-os em prejuízo dos consumidores. Curiosamente (ou não), nos nossos novos parceiros lá de Leste, a coisa então não era muito diferente, embora como sempre me ensinaram, os regimes fossem ideologicamente opostos.

Depois do 25 e após algumas más e dolorosas experiências, o caminho da economia de mercado foi tomado e reforçado com a adesão à U.E, craindo-se as condições para que, todos os que acreditavam na iniciativa privada pudessem, através do seu engenho e trabalho, contribuir para a melhoria das suas vidas e do bem estar das comunidades.

E hoje, o que temos? Temos muitos novos pequenos e médios empresários; temos alguns grandes grupos económicos, novos e velhos empresários que, com as suas carreiras de sucesso souberam construir grandes empresas, também elas de sucesso. Um bom exemplo de iniciativa privada! Mas, serão mesmo um bom exemplo? Hummm, desconfio!

E desconfio, porque um senhor que é, individualmente, um dos maiores accionistas de vários dos maiores grupos privados cá da nossa praça, também com vastos e privados interesses lá nas Américas, no sector do petróleo (ora aqui está um sector onde eu podia arranjar um tacho mesmo não percebendo nada do assunto), vociferava há uns tempos, em entrevista escrita, contra o facto de um organismo regulador da concorrência insistir em cumprir a sua missão (baixar os preços cobrados aos clientes) não se preocupando com os efeitos negativos que essas medidas (para fomentar a concorrência não nos esqueçamos) poderiam causar numa das suas empresas. Elucidativo! Comentários dos seus pares? Nã!

É este o exemplo de alguém que, supostamente, defende as liberdades individuais frente ao poder do Estado e oportunidades iguais para todos?. Afinal parece que pouco mudou ...