Tuesday, June 21, 2005

"Critica cultural" por JVC (in Jornal de Tondela)

Inspirado num grande sucesso de bilheteira brasileiro, centenas de jovens marginais, perdão jovens socialmente não integrados, de ascendência africana, estrearam em Portugal, no âmbito das comemorações de mais um dia de Portugal e das Comunidades, o espectáculo O Arrastão. Há vários anos que, na zona entre Algés e Cascais, se ensaiava esta peça mas só agora foi viável juntar um tão grande número de ladrões, perdão, de actores.

Levado à cena na praia de Carcavelos, em recinto superlotado, este primeiro espectáculo foi um êxito absoluto, tendo em conta a falta de publicidade que o antecedeu: abertura dos telejornais nacionais, capa dos principais jornais e referências elogiosas na imprensa internacional, como por exemplo na BBC, CNN, Folha de São Paulo, Washington Times, etc. Espera-se que muitos dos nossos potenciais visitantes estrangeiros não desistam de cá vir com base na esperança de também poderem ver este show nos seus próprios países.

Seguindo a via do espectáculo alternativo, no Arrastão há uma forte interacção entre o publico e os ladrões, perdão, os actores, o que nem sempre é bem compreendido pelos incautos, perdão, pelos espectadores menos bem formados e informados; tal facto pode dar origem a algumas cenas, sempre desagradáveis e condenáveis. Infelizmente foi o caso: houve alguns desacatos prontamente resolvidos pela intervenção da Polícia que, dada a falta de publicidade e de licenciamento do acontecimento, não estava presente desde o seu início. Alguns feridos de menor importância entre a assistência e pânico (injustificado) de famílias que teimam em levar crianças pequenas para espectáculos impróprios para as suas idades, merecem também breve referência. Há ainda notícias de pequenos incidentes causados por alguns dos ladrões, perdão, dos actores, que inebriados pelo êxito, se excederam no trajecto de volta ao recato dos seus lares. Nada que possa por em causa o excelente trabalho dessas centenas de ladrões, perdão, de profissionais.

Contudo, ao olho mais experiente do crítico, moi, não passaram despercebidas algumas falhas técnicas na execução da grande maioria dos ladrões, perdão, dos actores; falhas menores, dirão alguns; serão menores, sim senhor! Mas importantes! E exactamente por essas falhas serem menores é que, cada vez mais, os accionistas da escola a que eu pertenço – Portugal – entendem ser necessário alterar a (cruel, desumana e injustificada) legislação que impede o acesso destes jovens ladrões, perdão, actores, ao aperfeiçoamento profissional. Corrigir o (ainda pouco) que está mal e alargar o conhecimento é um bem consagrado na carta dos direitos humanos. Deles! Espera-se, deseja-se, quiçá exige-se, abertura das autoridades competentes para algumas (urgentes) mudanças na legislação em vigor.

Uma outra nota, noutro espaço cultural, de âmbito mais restrito, chega-nos ao conhecimento que o grupo cénico de um banco cá em Portugal (está, tem estado, estará???) a levar-nos em cena, um espectáculo musical em dó(i) baixinho, intitulado “6 anos? Reforma-se já...”. O elenco, de grande nível, promete qualidade e casa cheia. O publico está proibido de interagir com os hmmm... actores.