Wednesday, June 29, 2005

"Partidas" por JVC (in Jornal de Tondela)


Na passada semana fui ao aeroporto da Portela, mais precisamente à área das chegadas. O sol já há muito que tinha ido visitar outras paragens e, porque agora há que respeitar outras regras, o movimento era reduzido sendo poucas as pessoas que por lá se encontravam. O espaço, grande e bem iluminado, não tresandava a humanidade como noutras alturas, noutros tempos.

Gosto de aeroportos! Partidas e chegadas com significado oposto algures numa outra parte da Terra, num outro aeroporto. Gosto mais das chegadas fruto de uma velha incompatibilização com as partidas, há muitas aventuras passadas, na idade em que ainda não sabia que a estrada dos dias indolentes e preguiçosos desembocava numa via rápida de traçado duvidoso, umas vezes suave outras não, em acelerada direcção ao desconhecido. Mas é de partidas que quero escrever e para tal transcrevo um texto da autoria de JCD e que foi publicado no seu blogue Jaquinzinhos:

“Imaginem um Francisco, quadro técnico de máxima qualidade, especialista no que quer que seja.
Não tem empresas, não recebe dividendos, não herdou, não tem aplicações financeiras de milhões, não é proprietário de imóveis, não acede ao private banking, não tem contas nas ilhas Caimão, não tem pais ricos e nunca foi a Gibraltar.
O Francisco entrega a sua declaração de IRS em Março. No recibo de vencimento pode ler-se o montante de 4300 euros mensais brutos, a que acresce subsídio de refeição (nota 4300 x 14 = 60 200).O Francisco é desejado por muitas empresas. O Dr. Ambrósio, o patrão do Francisco não o quer perder. Faz contas e decide premiar o esforço e a dedicação do seu melhor técnico, atribuindo ao pacote salarial do Francisco mais dez mil euros por ano.
O Francisco fica muito feliz, a empresa vai gastar mais 10.000 euros por ano com ele. Parece muito bom. Mas depois faz contas:a) Dez mil euros a dividir por 14 meses 714 euros/mês; b) Taxa social única suportada pela empresa: 136 euros/mês; c) Taxa social única suportada pela empresa mas atribuída ao Francisco: 64 euros/mês.; d) IRS marginal (escalão dos 42%): 234 euros/mês; e) imposto de selo: três euros. Sobram ao Francisco 269 euros/mês, que lhe permitirão adquirir 226 euros de produtos com IVA a 21 por cento. Feitas as contas, por cada 31,5 euros que receber a mais, tem que alimentar o Estado com 68,5 euros. É mais do dobro. Dos dez mil euros, nem sequer um terço é para premiar o Francisco.Conclusão o Francisco vai trabalhar para Espanha..."

Eu também começo a pensar que com a gasolina (muito) mais barata e com o IVA também (muito) mais baixo o melhor é, sem passar pelo aeroporto, ir passar por lá umas férias mais prolongadas e esquecer o ditado.